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BLOG MAR & DEFESA

Um Brasil sobressaltado com o futuro*

Atualizado: 18 de ago. de 2023

Otávio Santana do Rêgo Barros**


MAR & DEFESA | 09 DE AGOSTO DE 2023


* Fonte: "Folha de Pernambuco", ed. 16 de junho de 2023. Os destaques em negrito foram inseridos pelo Editor. Link: https://www.folhape.com.br/noticias/um-brasil-sobressaltado-com-o-futuro/276028/

** General de Divisão da Reserva.


DA EDITORIA DO MAR & DEFESA


O presente artigo traz à luz algumas percepções interessantes para uma análise da política externa brasileira e das relações internacionais em geral.


As indagações feitas pelo articulista servem como alerta à indefinição histórica dos objetivos nacionais permanentes, bem como à inconsistência da orientação dos poderes Executivo e Legislativo à política externa brasileira.


Como exemplo, em que pese a mudança recente de governo não ter alterado a posição brasileira com respeito ao conflito Rússia x Ucrânia, vemos, por outro lado, uma significativa reorientação no que tange às relações com alguns dos nossos vizinhos da América do Sul, bem como EUA e Israel.


Para conferir uma maior estabilidade na condução da Política Externa Brasileira, nas relações comerciais com outros países e blocos, e nas alianças e configurações da Defesa Nacional, entendemos ser necessária a criação de um Centro de Estudos Político-Estratégicos unificado, integrado por representantes do Poder Executivo (com ênfase nos MRE, MD e SAE/PR), do Poder Legislativo (CRE e CREDN) e das Universidades (Relações Internacionais e Geopolítica). Percebe-se no atual cenário uma considerável dispersão de esforços e redundância de atividades.


"UM BRASIL SOBRESSALTADO COM O FUTURO"


O século 21 despertou de seu breve sonho, e nos mostra um mundo tumultuado que avança para uma reconfiguração dos polos de poder. Esse truísmo, agora tão comum, não está mais em discussão. A forma como tratá-lo, sim.


O velho quebra-cabeça da geopolítica mundial, com peças enormes, encaixe quase perfeito e cores simétricas foi substituído por um jogo mais complexo, com pequenos recortes, assimetria nas bordas e matizes difusos.


O término da guerra fria, celebrado com entusiasmo pelo mundo ocidental e que parecia indicar o fim da história pela hegemonia inconteste dos Estados Unidos, foi, tão somente, a decretação do intervalo em um jogo acirrado no qual os contendores, já substituídos, pelejam com regras alteradas e impostas sem o consenso de outros competidores menos qualificados.


Nesse contexto, o Brasil vive sobressaltado quanto ao seu futuro diante de um ambiente global volátil, incerto, complexo e ambíguo.


Inserido no subcontinente da América do Sul, nosso país sofre com a ciclotimia de afirmação de sua imagem: líder regional consentido ou mais um entre estados abaixo da linha do Equador.


É necessário descortinar a dinâmica que cerca a reconfiguração de poder no tabuleiro estratégico mundial, suas consequências no ambiente regional e os reflexos para a soberania e defesa do país. Por natural, diante da complexidade do tema, há poucas certezas e muitas dúvidas.


Qual a visão atual do Brasil quanto às relações externas, em particular os enlaces regionais? Há coerência e sinergia entre as visões da diplomacia profissional do Itamaraty, herdeira dos exemplos do Barão do Rio Branco e reconhecida mundialmente, e os governos de turno?


Da análise geopolítica que impactaria um porvir de estabilidade, à execução do projeto de poder para alcançá-lo, somos um corpo desconectado da cabeça. Elabora-se coerentemente na fase contemplativa de análise do problema, mas a execução é permeada de incertezas ou pouca vontade política em enfrentar os desafios.


O dilema da neutralidade nos beneficiaria? Não saberia afirmar com total segurança, mas é bom retomar a passagem do histórico diálogo meliano, entre atenienses e habitantes da Ilha de Melos, na Guerra do Peloponeso: “pois deveis saber que o justo, nas discussões entre homens, só prevalece quando os interesses de ambos os lados são compatíveis, e que os fortes exercem o poder e os fracos se submetem”.


Qual a identidade desse bloco de países sul-americanos? Seus vínculos são psicossociais ou apenas geográficos? Aceitariam unir-se para a defesa de seus interesses?


A multipolaridade global, com novos centros de poder disputando os espaços antes consolidados no “colonialismo” pós Segunda Guerra, ao se refletir na América do Sul, é impactada por uma polaridade regional distinta. No lado oriental do subcontinente há estabilidade centenária, no ocidental, fricções históricas ainda geradoras de permanentes conflitos.


Diante desse cenário, o Brasil do "chão de fábrica" se observa capaz de assumir a liderança regional, estimulando um projeto “sudamericano” coerente com o novo panorama mundial?


Do ponto de vista da cobiça extra regional, caracterizada na expansão particularmente econômica dos grandes polos de poder, é possível confiar em qualquer potência que tenha interesses divergentes dos nossos?


Emerge dessa construção acadêmica o alerta de que a liderança geopolítica de um Estado precisa transcender períodos de governo. Ao mesmo tempo, ela se fortalece no reconhecimento e apoio dos liderados. Nesse diapasão, a região estaria madura para conviver com uma liderança isolada brasileira ou, melhor seria, um arranjo de uma liderança compartilhada?


Afirmou Henry Kissinger, em sua obra Diplomacia, que os países devem aprender a combinar fatores permanentes das relações internacionais com elementos sujeitos à discrição dos governantes.


Pela formulação, o ex-secretário de estado americano nos intima a responder: o que a sociedade brasileira, liderada por seus governantes e atrelada aos interesses de Estado, quer como opção geopolítica e estratégica para o País?


É hora de enfrentar a questão.

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