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BLOG MAR & DEFESA

Rei dos cachorros ou cachorro do Rei? - Uma reflexão para a Indústria de Defesa Brasileira*

Rodrigo Campos**



MAR & DEFESA | 30 DE OUTUBRO DE 2023

Imagem disponível no artigo original. Acessada em 28/09/23.



DA EDITORIA - Nota introdutória


O artigo ora publicado - que bem poderia aludir à metáfora "cabeça de sardinha ou rabo de baleia?" - trata de um dilema vivenciado na obtenção de material militar, não apenas no Brasil, mas na maior parte dos países do mundo, quando decisores políticos e militares são confrontados entre adquirir sistemas e plataformas modernos no exterior, que conferem às suas forças armadas a curto prazo maior poder ofensivo, ou desenvolve-los de forma autóctone, com os inconvenientes de atrasos em sua prontificação e incorporação de tecnologias em início de obsolescência.


Independente da solução de compromisso adotada, uma coisa é certa: o desenvolvimento de tecnologias de aplicação militar e a subsequente produção industrial no país (atividades compreendidas na Logística de Defesa) devem ser priorizadas em épocas de normalidade; quando irromperem os conflitos não haverá tempo para tal, além do que os recursos serão forçosamente direcionados para as Forças Armadas, em especial para as unidades combatentes.


ARTIGO

A metáfora "é melhor ser o cachorro do rei, ou o rei dos cachorros?" nos convida a refletir sobre a posição da Indústria de Defesa brasileira em relação à competição acirrada com as superpotências militares e econômicas mundiais. No cenário global, o Brasil encontra-se diante de um dilema, onde deve escolher entre ser submisso às grandes potências ou buscar autonomia e liderança. Neste artigo, busco explorar as vantagens e desvantagens de cada uma dessas situações, traçando um panorama do futuro da Indústria de Defesa do País.

> Entendendo o dilema


A metáfora que se traduz em provocação para reflexões traz consigo uma riqueza de interpretações, que podem ser aplicadas ao contexto da Indústria de Defesa brasileira em sua busca por posicionamento no mercado global. Pretendo explorar brevemente essas interpretações e como elas se relacionam com as decisões estratégicas do país.


Em uma interpretação, ela sugere que é melhor ser o líder de um grupo ou comunidade do que ser um seguidor. O rei dos cachorros é o líder da matilha, e tem autoridade sobre todos os outros cães. O cachorro do rei, por outro lado, é apenas um seguidor, e não tem nenhuma autoridade sobre os outros cães.


Em outra interpretação, sugere que é melhor ser independente e autossuficiente do que ser dependente de outra pessoa. O rei dos cachorros é independente. O cachorro do rei, por outro lado, é dependente do rei, e precisa dele para sobreviver.


Em uma terceira interpretação, a metáfora sugere que é melhor ser original e único do que ser igual aos outros. O rei dos cachorros é original, e não é igual aos outros cães. O cachorro do rei, por outro lado, é igual a todos os outros cães que são seguidores do rei.

> Análise Líder x Seguidor


A. "Rei dos Cachorros"


Na primeira interpretação, a metáfora nos lembra da importância da liderança e da autonomia na Indústria de Defesa. Ser "o rei dos cachorros" implica em liderar o caminho, definir as estratégias e moldar o futuro. No contexto brasileiro, isso se traduz em ser um líder na pesquisa e desenvolvimento de tecnologia militar.


Quando o Brasil assume a posição de liderança, ele pode definir suas próprias metas e prioridades de segurança, em vez de seguir a agenda de outros. Além disso, ser líder traz as seguintes vantagens e desvantagens ampliadas:

Vantagens


1. Autonomia Estratégica: Como líder, o Brasil teria maior liberdade para definir sua estratégia de defesa, alinhada com seus interesses nacionais e necessidades específicas. 2. Influência Global: A liderança em tecnologia militar permitiria ao Brasil desempenhar um papel mais influente em questões globais de segurança, contribuindo para a estabilidade internacional. 3. Potencial de Exportação: Um setor de defesa forte pode levar a oportunidades de exportação de equipamentos e tecnologias, fortalecendo a economia do país.

Desvantagens


1. Altos Custos Iniciais: O desenvolvimento de capacidades de defesa de ponta requer investimentos substanciais em pesquisa e desenvolvimento, o que pode ser financeiramente oneroso. 2. Pressão Diplomática: Líderes regionais podem atrair atenção indesejada e pressões diplomáticas de outras nações, criando tensões potenciais. 3. Riscos de Isolamento: Uma busca implacável pela liderança pode alienar parceiros regionais, levando ao isolamento diplomático.

B. "Cachorro do Rei"


Ser "o cachorro do rei" implica em depender das superpotências para adquirir tecnologia, equipamentos e recursos militares. Isso pode oferecer algumas vantagens e desvantagens ampliadas:

Vantagens


1. Acesso à Tecnologia Avançada: Alinhar-se com superpotências pode garantir o acesso rápido a tecnologias militares de ponta. 2. Segurança em Alianças: Parcerias com superpotências podem proporcionar segurança em caso de conflitos, reduzindo a pressão sobre o orçamento de defesa. 3. Compartilhamento de Inteligência: Acesso a informações e inteligência compartilhada pode melhorar a capacidade de defesa do Brasil.

Desvantagens


1. Dependência Externa: A dependência de fornecedores externos pode comprometer a independência e a soberania do Brasil. 2. Restrições Políticas: Alianças podem impor restrições políticas e estratégicas que limitam a liberdade de ação do país. 3. Vulnerabilidade a Pressões Externas: Seguir as políticas das superpotências pode tornar o Brasil vulnerável a influências externas em sua segurança nacional.

Conclusão


O futuro da Indústria de Defesa brasileira é uma decisão crucial que afetará a segurança e a autonomia do país nas próximas décadas. A escolha entre ser "o cachorro do rei" ou "o rei dos cachorros" envolve ponderar amplamente as vantagens da colaboração com superpotências contra a busca de autonomia e liderança regional.


A estratégia ideal pode ser uma combinação dessas abordagens, buscando parcerias estratégicas inteligentes enquanto se investe na construção de uma Indústria de Defesa robusta e autossuficiente. Isso permitirá ao Brasil manter sua independência e soberania, ao mesmo tempo em que aproveita as vantagens das alianças internacionais. Em última análise, a chave para o sucesso estará em encontrar um equilíbrio que atenda aos interesses nacionais e contribua para um mundo mais seguro.


Além disso, em qualquer um dos caminhos, é fundamental que o Brasil supere o chamado "complexo de cão vira-latas" e que acredite e invista em sua capacidade de liderança, suficiência e inovação.


* Artigo publicado no LinkedIn em 29/09/23, sob o título "O Futuro da Indústria de Defesa Brasileira: É melhor ser o cachorro do rei, ou ser rei dos cachorros? Eis a questão...". Link para o artigo original: https://www.linkedin.com/posts/activity-7113107575734194177-lVHP?utm_source=share&utm_medium=member_android


** Empresário e executivo com mais de 25 anos de atuação nos setores engenharia, tecnologia e defesa, responsável por projetos na área logística de material aeronáutico e bélico. É sócio-fundador das startups InsurBids Tecnologias de Seguros e do Banco Inteligente de Defesa e Segurança do Brasil, ambas com foco e atuação do Setor de Defesa e Segurança. É Diretor Técnico do Grupo de Trabalho Financiamentos e Economia de Defesa e Segurança na FIESP - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

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Para entrar em contato com a Editoria do MAR & DEFESA, com o autor do artigo, ou com a mídia que o publicou originalmente, basta enviar mensagem para um dos canais abaixo.


MAR & DEFESA

Poder Marítimo e Defesa Nacional

Contribuindo para o desenvolvimento de uma mentalidade política de defesa no Brasil


Editor responsável: Francisco Eduardo Neves Novellino


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