Publicado no blog MAR & DEFESA em 21 de outubro de 2022
Imagem: Agência Marinha de Notícias. Baixada em 18/10/22.
NOTA INTRODUTÓRIA (MAR & DEFESA)
O projeto do Míssil Antinavio de Superfície (MANSUP) é um dos principais programas estratégicos da Marinha do Brasil, ao lado do SisGAAz (Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul), do Programa Fragatas Classe Tamandaré (PFCT) e do PROSUB (Programa de Submarinos). Vem sendo conduzido desde 2011, sob a coordenação da Diretoria de Sistemas de Armas da Marinha, e tem, como objetivo, prover a Marinha de um míssil de fabricação nacional contra alvos de superfície, em substituição ao míssil francês Exocet MM40. Tem o alcance de aproximadamente 70 km, pesa cerca de uma tonelada, e seu voo, a 1.000 km/h, é realizado a uma altura de dois a 15 metros sobre a superfície do mar, para dificultar a identificação do míssil pelo radar do navio alvo. Conforme mencionado na matéria, o projeto envolve não apenas o míssil em si, mas também toda a infraestrutura de lançamento e controle.
É importante que se diga que os períodos de normalidade, sem iminência de conflitos - quando não há urgência e necessidade de se recorrer a um fornecedor externo -, são ideais para que as Forças Armadas desenvolvam uma capacidade de logística de defesa autóctone, essencial para a defesa de um país do porte e das características do Brasil. Já nos momentos de crise, onde os efetivos e meios militares devem ser mobilizados rapidamente para fazer frente às ameaças, a prioridade orçamentária deve ser voltada à disponibilidade imediata de material de emprego militar, adequado ao teatro de operações e à duração prevista do conflito.
Cabe ainda ressaltar que a indústria de defesa deve, prioritariamente, ser mantida como elemento fundamental do preparo e emprego do Poder Militar. Sua finalidade principal não deve ser gerar empregos, gerar tecnologia “dual”, aumentar a pauta de exportações, etc. Obviamente, uma indústria de defesa que gera empregos, tecnologia e exportações traz benefícios para a sociedade e o Estado, mas se for necessário desenvolver um produto de emprego militar com geração de déficit, que assim seja, em benefício da garantia da segurança nacional.
Dessa forma, sempre valerá a pena o desenvolvimento de sistemas de armas como o MANSUP, mesmo que demore décadas para sua homologação para emprego efetivo. Projetos desse tipo, dotados de tecnologia majoritariamente nacional, permitem ao País ter autonomia nas decisões de produção, emprego e, eventualmente, exportação.
O exemplo recente da fragilidade bélica da Ucrânia diante da invasão russa demonstrou que não se deve transferir a terceiros a responsabilidade de prover os meios militares necessários à garantia da segurança nacional. Da mesma forma, permanece ainda na memória dos planejadores navais sul-americanos a restrição logística imposta à Argentina em 1982, durante o conflito Malvinas/Falklands.
MATÉRIA
No dia 20 de setembro de 2022, a Marinha do Brasil (MB) lançou com sucesso, pela quarta vez, o Míssil Antinavio de Superfície (MANSUP). Ocorrida na região ao sul de Cabo Frio (RJ), a operação contou com a participação das Fragatas “Constituição” e “Liberal”. O lançamento marcou o início da fase de qualificação do míssil e possibilitou testar alguns subsistemas já em sua versão final de produção. Novos lançamentos de qualificação ainda estão previstos antes do início da produção do MANSUP.
Para o Diretor de Sistemas de Armas da Marinha, Vice-Almirante Marco Antonio Ismael Trovão de Oliveira, a fase está avançando conforme o planejado. “Na etapa anterior foram testadas, por meio do lançamento de três protótipos, as soluções de engenharia adotadas para que o míssil atendesse aos requisitos estabelecidos. Na etapa atual, estão sendo testados os subsistemas já aperfeiçoados, o que garantirá que o míssil seja fabricado com a melhor tecnologia disponível, adicionando maior robustez e eficiência ao produto, e atendendo a todas as condições impostas inicialmente”.
O Almirante Trovão acrescentou que no primeiro lançamento também foi realizada nova avaliação do desempenho do motor-foguete e do efeito dos ajustes no software de controle do míssil, tendo como base os resultados dos lançamentos anteriores. “Na ocasião, foi testado também o novo sistema de telemetria, agora com maior alcance, ângulo de visada mais amplo e mais resistente às condições meteorológicas”.
Segundo Robson Duarte, da empresa Sistemas Integrados de Alto Teor Tecnológico (SIATT), que é Gerente do Programa do MANSUP, outro grande avanço em relação aos lançamentos anteriores foi a utilização do novo Console Lançador de Míssil (CLM). “Quando a Marinha do Brasil decidiu investir no desenvolvimento do MANSUP, foi imposto o requisito que o míssil fosse totalmente compatível com os lançadores e consoles existentes em seu estoque. Hoje, além do míssil, a SIATT está nacionalizando toda a infraestrutura de lançamento. Desta forma, uma nova janela de oportunidades se abre, havendo a possibilidade de revitalizar navios antigos que estejam com seus consoles inoperantes, como também a instalação de todo um sistema de lançamento nacional em novos navios”.
Um outro requisito estabelecido pela MB foi a utilização de componentes designados como “ITAR Free”, ou seja, livres de embargos (limitação de compra e venda de determinados componentes críticos para operações de área de defesa e aeroespacial). Segundo Robson isso foi possível “com o uso de tecnologia nacional e componentes ITAR free. Com isso a Marinha e o Brasil alcançaram um grau de autonomia conquistado por pouquíssimos países no mundo”.
O Diretor-Geral do Material da Marinha, Almirante de Esquadra José Augusto Vieira da Cunha de Menezes, ressaltou a relevância do desenvolvimento de um projeto como esse, destacando “que todos os engenheiros e técnicos envolvidos no Projeto MANSUP são brasileiros, formados nos diversos centros acadêmicos do Brasil. A tecnologia empregada no projeto é desenvolvida por brasileiros e todos os recursos empregados são investidos dentro do País. O MANSUP permitirá a Marinha contar com um armamento eficaz no prazo e na quantidade que se fizer necessária, contribuindo para a defesa dos interesses nacionais e de nossa soberania na Amazônia Azul”.
Além da Fragata “Constituição”, que foi o navio lançador, participaram da operação: a Fragata “Liberal”, como navio assistente; a aeronave UH-12 “Águia” 87, responsável pela telemetria (tecnologia que permite a medição remota e em tempo real dos parâmetros necessários para avaliar o funcionamento e o desempenho do míssil); e as aeronaves UH-12 “Águia” 82 e P-3, para limpeza de área.
Fonte: Agência Marinha de Notícias. Publicada em 21/09/22.
- Vídeo institucional da preparação e do lançamento do MANSUP:
Canal "Global Militar" - https://youtu.be/vSl91PHOSkk
- Antecedentes, desenvolvimento e detalhes técnicos do MANSUP:
Portal Defesa Aérea & Naval - https://www.defesaaereanaval.com.br/naval/mansup-a-construcao-de-um-missil-do-impossivel-a-realidade. Publicado em 21/01/20; acessado em 21/10/22.
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